Porto do Açú quer se tornar referência em transição energética e desenvolvimento sustentável |
O Green Rio esteve no escritório da Prumo Logística e conversou com o diretor Mauro Andrade. Conheceu alguns dos projetos de economia verde do Porto do Açú, que pretende se tornar uma referência para transição energética. Uma das principais ações de biodiversidade é a Reserva Caruara. O Green Rio fez uma entrevista com a empresa para conhecer mais a respeito. Confira!
1. Como você vê a administração dos portos diante do desafio das questões ambientais e sociais e como o Porto do Açu vem se posicionando neste sentido?
O Porto do Açu é comprometido com práticas ESG desde o início da implantação e operação. Ocupando uma área de 130 quilômetros quadrados – quase um terço do território de São João da Barra -, o Porto conta hoje com 22 empresas instaladas e 11 terminais, entre eles o terceiro maior de minério de ferro do país. Desta área, 40 quilômetros quadrados são ocupados pela Caruara, a maior reserva privada de conservação de restinga do Brasil. Em breve, o Porto vai abrigar o maior parque termelétrico da América Latina. Atualmente, o complexo é o segundo maior pagador de impostos no município – foram mais de R$ 10 milhões pagos em 2022 – e o segundo maior empregador, gerando quase 7 mil empregos.
A nossa ambição é que esse empreendimento funcione de forma sustentável e seja reconhecido como o porto da transição energética do Brasil. É inevitável, portanto, que ao perseguir essa agenda da sustentabilidade, o Porto do Açu se preocupe também em provocar um impacto social positivo. A aspiração é buscar o desenvolvimento social sustentável, proporcionando oportunidades e protagonismo para as pessoas.
No longo prazo, queremos ser lembrados por duas frentes: a transição energética e a transformação social da região. A essência dessa agenda social está hoje concentrada em um conjunto de compromissos relacionados diretamente com o desenvolvimento sustentável da região no longo prazo e com potencial de melhorar os índices socioeconômicos locais, como gerar emprego, desenvolver fornecedores regionais, fortalecer a educação e apoiar iniciativas empreendedoras. Ao todo, são mais de 30 programas desenvolvidos de forma simultânea pelo Porto do Açu, sempre buscando promover melhor sinergia entre o empreendimento portuário e o desenvolvimento no entorno.
2. Qual a estratégia do Porto do Açu para o hidrogênio verde?
O Porto do Açu trabalha como plataforma de descarbonização na atração da cadeia de valor do hidrogênio de baixo carbono, atuando como habilitador, tanto de fontes de energia quanto de usos do hidrogênio limpo, incentivando indústrias a aproveitar as potencialidades do porto e da área livre ao redor.
Ele está planejado para ser um porto-indústria e abrigar um ecossistema com integração de negócios. Ao contrário de outros portos do mundo, que não têm espaço para onde crescer, o Açu tem 44 km2 de área disponível para alocar empresas e projetos que atendam o objetivo de transição energética.
Em consonância com a necessidade de transição energética e das exigências de descarbonização em curso no mundo, a Prumo, holding responsável pelo desenvolvimento do empreendimento, aposta no hidrogênio verde como um insumo fundamental para uso industrial no Brasil. Ele pode ser usado para produzir amônia verde, metanol verde, óleo vegetal hidrotratado, fertilizantes e HBI (ferro briquetado a quente), empregado nos alto-fornos das siderúrgicas. O diferencial do Açu em relação a outros portos nacionais é que, enquanto estes estão voltados para a exportação, o Açu pretende oferecer o hidrogênio verde para consumo interno industrial. Assim, dificuldades apresentadas pelo transporte e pelo armazenamento seriam mitigados graças ao conceito de industrialização local, que atrai os consumidores interessados nesse tipo de energia para dentro do porto.
Outro diferencial é o licenciamento ambiental prévio de uma área de 1 milhão de metros quadrados para a instalação de um hub de hidrogênio de baixo carbono no porto-indústria, concedido pelo Governo do Rio, um atrativo e facilitador para a instalação de empresas que queiram construir e operar plantas de hidrogênio verde no Porto do Açu.
Em paralelo, já assinamos acordos com os principais players de energia que desenvolvem projetos de hidrogênio no país, com expectativa de produção em 2026. São projetos com capacidade inicial de 10 MW de eletrólise, podendo chegar a 100 MW em uma fase posterior.
3. O que mais poderia mencionar quanto ao uso das energias renováveis e logística sustentável no Porto do Açu?
A ambição do Porto do Açu é que até o final desta década os projetos de baixo carbono estejam implementados, sendo um um dos poucos portos no mundo com industrialização fossil e renovável atuando concomitantemente. Para isso, o Porto-Indústria do Açu trabalha para atrair players interessados em instalar plantas de hidrogênio verde, planta solar fotovoltaica, bases logísticas para o segmento de eólica offshore e biomassa, biogás, bem como siderúrgicas que possam aproveitar essa energia limpa e reduzir a emissão de carbono. Participar de cadeia completa da descarbonização, da produção do hidrogênio verde até seu uso dentro do porto nas plantas que serão instaladas; é uma possibilidade que, hoje, nenhum porto do mundo oferece.
No que diz respeito aos projetos de geração de energias renováveis, o Porto do Açu tem algumas peculiaridades que lhe favorecem além do espaço disponível para abrigar usinas e fábricas. Ele está em uma área de boa irradiação solar e com excelente quantidade, velocidade e constância de ventos nas áreas offshore muito próximas ao porto – com valores acima da média mundial em fator de capacidade.
Está em fase de desenvolvimento uma planta de geração solar fotovoltaica em parceria com a chinesa Mingyang na retroárea do Porto do Açu, que pode ser uma solução off grid para consumidores industriais e empresas instaladas no porto, melhorando a competitividade do custo final de energia por eliminar o custo de transmissão
Em relação à energia eólica offshore, o objetivo é tornar o Açu a principal base de instalação, comissionamento, operação e manutenção para parques eólicos marinhos na Região Sudeste. A distância de futuros parques eólicos offshore (20km); a logística existente no porto que já serve a industria de petróleo e gás – e que também servirá ao segmento de eólica offshore; e a instalação da cadeia de valor da éolica offshore (turbinas, pás eólicas, cabos e torres), farão do Porto do Açu a infraestrutura mais competitiva para servir esta indústria emergente.
Já existem 20 projetos de parques eólicos offshore na área de abrangência do porto que solicitaram licenciamento ambiental no Ibama. Juntos estes projetos têm o potencial de atingir 50 GW de capacidade (embora haja sobreposições, o que certamente reduzirá este valor). De qualquer forma, é um volume substancial de projetos que justifica a instalação da cadeia de valor no Porto do Açu. Tais projetos são capitaneados por empresas globais, como a EDF Renewables, TotalEnergies, Neoenergia, Ocean Winds, Corio Generation, Equinor dentre outras. O primeiro elétron está previsto para ser produzido no começo da próxima década.
Também há projetos em desenvolvimento para produção de biometano e CO2 biogênico nas imediações do porto, que podem abastecer unidades de produção de e-metanol dentro do porto do Açu.
4. Quais as principais iniciativas e projetos que destacaria sendo realizados na Reserva Caruara?
A Reserva Caruara é a maior unidade de conservação privada destinada à preservação da vegetação de restinga no Brasil, criada e mantida de forma voluntária pelo Porto do Açu. São 40 km2 de área protegida, o equivalente a 5 mil campos de futebol, com mais de 1,4 milhão de mudas plantadas. Com 573 espécies de fauna e 307 espécies de flora catalogadas, sua biodiversidade é uma fonte de conhecimento científico e ambiental. Mais de 42 pesquisas já foram feitas no local, que conta com 80 colaboradores e 50 trabalhadores fixos – 100% da mão de obra é da região.
A perspectiva é que ela se consolide como um pólo de turismo sustentável, com serviços ambientais e projetos de educação e pesquisa científica. E, assim, também possa fomentar a economia local através dos seus eixos de atuação. A Reserva já cria oportunidades de emprego na região ligados ao turismo sustentável e à sua cadeia de serviços e fornecimento. E gera uma média de R$ 800 mil por ano de ICMS verde ao município de São João da Barra. A projeção é que esse número cresça com maior afluxo de visitantes e projetos.
Aberta à visitação em setembro de 2022, com a inauguração de sua sede às margens da Lagoa de Iquipari, a Reserva Caruara já recebeu 27.265 mil visitantes. A sede conta com três prédios, sendo um anfiteatro, uma área administrativa e a nova base para o Programa de Monitoramento de Tartarugas Marinhas (PMTM), que foi implantado em parceria com a Fundação Projeto Tamar, referência no país nesse tema. Em 15 anos mais de 1,3 milhão de filhotes de tartarugas caminharam para o mar.
Mais do que um ativo ESG para o Porto do Açu, a Reserva Caruara já é um legado socioambiental para o Estado do Rio de Janeiro. Um exemplo é que, se a taxa de perda das primeira mudas plantadas chegava a 85%, hoje já baixou para cerca de 30%, um sucesso para plantios em grande escala em qualquer bioma. Esse bom desempenho é um dos motivos para a Reserva Caruara ter se tornado uma referência nacional em plantio de restinga, sendo procurada por pesquisadores de todo o país. E é uma iniciativa que já tem reconhecimento público. Obteve o Selo Verde do Instituto Chico Mendes, o Prêmio Firjan Ação Ambiental, o Prêmio Benchmark Brasil e o 14º Prêmio Brasil Ambiental.
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